Em 1951 os estúdios de Wall Disney trouxeram ao mundo um
de seus maiores clássicos.
Não sei se foi só a qualidade técnica da animação, o que
era um avanço para época, ou se foi o roteiro extremamente maluco.
Se você já teve a chance de ver a ultima versão em que
Johnny Depp atuou como o chapeleiro – ele só faz papel de maluco? – nem viu nem
de longe o nível de esquisitice do desenho da década de 50.
Esse desenho era “Alice no país das maravilhas”, que
contava a historia de Alice, uma menina que encontra um coelho de chapéu e com
muita pressa correndo pelo jardim, gritando que estava atrasado. Como qualquer
pessoa decente, Alice segue o coelho até um buraco de arvore, onde ao entrar,
cai em um “mundo muito louco”.
E por falar em loucura, eu estava dando uma volta pela
cidade, ali pela orla, quando vi uma parada com um brilho muito forte.
Morar em uma cidade à beira do rio tem suas
particularidades:
Em vez de shopping centers, nos fim de semana vamos todos
para a orla da cidade, curtir musica de barzinho, comer em algum bangalô ou só
ficar de boréstia com a namorada, esposa, amigos, família ou cachorro – tem gente
que faz isso. #poser*
Estava eu, dando uma volta na orla em um fim de tarde,
quando vi algo diferente no farol municipal - Como temos uma forte movimentação
de embarcações, mesmo durante a noite, fio construído um farol para auxiliar na
navegação noturna.
Uma luz colorida, bem diferente da amarelada de sempre,
me seduziu a aproximar-me. Quando cheguei à porta do farol fui sugado pela força
sobrenatural da curiosidade, cai no buraco negro.
Depois de atravessar uma porta larga e bonita me deparei
com seres totalmente diferentes do que costumo conviver na minha nada mole
vida.
Eram um bichos de cor clara e todos muito cheirosos e
cheios de pose. Fumavam cigarros de grife, que deve ser tipo comprar caixão
caro: baboseira.
Eles nem me deram atenção, o que foi o suficiente para
que cruzasse o salão principal rumo à outra porta, que assim como o farol,
brilhava luzes coloridas em tons de vermelho – cabaret?*
Chegando na porta, o segurança me disse que ali era um
atalho para a terceira porta e que dali em diante, só com autorização especial
da dona do farol. Ele pediu que eu esperasse alguns minutos. Foram cinco
minutos ate que o segurança voltou e liberou minha entrada rumo à uma longa
escadaria que levava ao ponto mais alto do farol, onde a luz colorida brilhava
com a intensidade de uma boate gay – sem ofensa.
A tal dona do farol, que me deixou entrar, estava no
fundo de um longo salão, observando a distancia, o comportamento de todos os
presentes.
Os bichos desse lugar eram hilários! Andavam de um lado
por outro com baldes nas mãos, carregando gelo para amenizar a temperatura do lugar
- #inferninho.
Eles tinha uma maquina que tocava musica, sempre o mesmo
ritmo, só mudavam a letra.
E por falar em letra, quando a maquina começou a tocar,
de novo, o mesmo ritmo. Um sujeito subiu e uma das mesas e começou a contar e
cantar sobre sua aventura em uma “Fiorino”* que tinha de tudo no bagageiro... A
galera pirou na historia!
Depois rolou uma vibe* “enfica”* onde enfim...
Fiquei tão chocado com o que via que tirei meu celular do
bolso e tentei encontrar minha localização no GPS. Bolo doido era o que o GPS
dizia – agora fazia sentido o tiozinho tirando a camisa do meu lado.
De repente a dona do farol deu um comando à todos:
- Mãos pra cima... Cintura solta... Dá meia volta...
Dança “kuduro” *.
Todos obedeceram com uma aparente alegria e descaramento
como poucas vezes eu ví.
Nas duas horas seguintes fui encoxado*, apertado,
arranhado, mordido e seduzido. Não que tenha me sentido completamente forçado a
ceder a esses assédios, não foi isso. Eu achei foi graça. Foi como ver índios pela
primeira vez, é chocante ver gente que vive nua o tempo todo, balançado as
paradas – no caso dos homens.
Depois a gente entende que esse, de repente é o jeito
deles de viver, mas eu prefiro ficar vestido, com minhas “coisas” seguras.
Acordei na minha cama, em um domingo de manhã sem saber
como havia saído daquele lugar surreal. Mas honestamente, nunca mais dou moral
pra luzes que brilham na orla desta cidade.
#traumamodeon.*
# - símbolo muito usado no twitter para avisar do que se
trata o assunto em questão.
Exemplo: Beijo do gordo #josoares (estamos falando do Jô
Soares)
*Cabaret - casa de diversões onde se bebe e dança e em
geral se assiste espetáculos de variedades. (putaria)
*Fiorino – Um modelo de carro da Fiat, era a cara do velho
Uno Mille.
*Vibe – Momento específico, sensação, impressão psicológica sobre
algo ou alguma coisa.
Exemplo: Tô com uma vibe estranha na barriga (dor de
barriga).
*Enfica – Musica de conteúdo sem vergonha, e que me recuso a
explicar.
*Kuduro – Musica de abertura da novela das oito, que começa
às nove...#poser
*Encoxado – situação em que alguem se aproveita de sua
nobreza e lhe passa a mão descaradamente.
*Traumamodeon – quando usamos hashtag (pronuncia-se:
reshhhtegiiiii) a frase que a acompanha deve vir sem espaços.
Exemplo: Traumamodeon ( quer dizer que o Trauma está ligado,
como se tivesse botão de liga – on - e
desliga – off)